Agora está na moda dizer que quem gosta de
futebol (eu, por exemplo) não participa ativamente da vida política do país,
não se importa com a corrupção ou com os problemas do Brasil. Frases do tipo “O
Brasil só tem os problemas que tem por culpa das pessoas aqui gostarem demais
de futebol”, “O Brasil não vai para frente porque o povo só se preocupa com
futebol” – o carnaval também aparece na lista das “culpas”, mas por ora, me
concentrarei no futebol- estão circulando aos montes na internet.
Mentira! Essas afirmações de senso comum servem apenas para
desviar o foco dos reais motivos que fazem do povo brasileiro, um povo apático
em relação à corrupção. O Brasil tem os políticos que tem, aceita a corrupção
passivamente e perdeu a força de indignar-se diante dos acontecimentos
esdrúxulos (para dizer o mínimo) dos últimos tempos, simplesmente porque falta
educação ao povo brasileiro. Esse também pode ser considerado mais um clichê,
“a educação brasileira é pífia”, mas é um clichê que condiz com a realidade.
Hoje mais do que nunca se faz necessário ao país um educação de qualidade, que
ensine não só os conteúdos básicos do currículo, o que já seria difícil, mas
uma educação que ensine também a pensar a ser crítico, fazer do aluno um
formador de opinião.
Milhares de torcedores chorando, decepcionados porque seu
time foi rebaixado ou outros milhares, vibrando, sorrindo e cantando porque seu
time foi campeão, não tem absolutamente nenhuma influencia na política
brasileira, nem boa, nem ruim. Agora, quando 1350 milhões de pessoas que se
juntam para votar em um palhaço e fazer dele o deputado mais bem votado do
país, e mais grave, a maioria ainda achava que estava protestando, isso sim tem
influência direta e certamente essa atitude afetou ou afetará de algum modo a
vida dos brasileiros, dos que votaram e dos que não votaram.
Aí aparecem essas pessoas que acham que pelo simples fato de
não gostarem de futebol, estão de algum modo contribuindo para o bem estar da
nação. Acham-se superior e no direito de apontar os “culpados”. Futebol e
carnaval são duas paixões brasileiras, faz parte da nossa cultura, gostem ou
não. O fato de uma pessoa ser incapaz de se emocionar durante uma partida de
futebol não faz dela melhor ou pior do que ninguém. Relacionar isso a leniência
do povo brasileiro, para mim, não faz sentido.
Sou contra a violência, seja nos protestos do futebol, nas
marchas da maconha, nas greves, seja onde for, assim como sou contra aos rios
de dinheiro que serão gastos na realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. O
fato de eu ir ao estádio e me sensibilizar com a vitória do meu time, ou zoar
um amigo quando o time dele perde, não muda em nada minha indignação diante dos
fatos. Fico estarrecida quando vejo, por exemplo, pessoas passarem por cima da
lei em nome da agilidade dos projetos da copa, quando fica claro que o que
querem é facilidade para desviar verbas e enriquecerem (mais) ilicitamente à
custa de nosso dinheiro.
Existem muitas formas de mudar a realidade política do país,
começar com a qualidade na educação seria um grande passo. Deixar de gostar de
futebol e carnaval certamente não faz parte das medidas.
E vamos que vamos que o carnaval está chegando!
Tá, senso comum também merece comentário. Futebol é uma chaga nessa sociedade. Desvia os investimentos que deveriam estar na educação. Desviam a atenção das pessoas do que realmente é importante. Constroem modelos para as crianças e jovens que passam a acreditar que não precisam estudar para ser alguém na vida. Por último nos impõem o Neimar como modelo de beleza (!!!) em outdoors e cortes de cabelo. Ninguém merece! Um bando de ignorantes que desviam sua energia vital para vibrações improdutivas quando deveriam gastá-las no trabalho e em fazer suas mulheres felizes. Abaixo ao futebal e a torcer para futebol. Acima de tudo, abaixo aos investimentos públicos no futebol!!!
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